Relato do encontro especial de primavera de 2017, com Robert Walter





Pondo-se no encalço da sua bem aventurança, você se coloca numa espécie de trilha que esteve aí o tempo todo, à sua espera, e a vida que você tem que viver é essa mesma que você está vivendo. Quando consegue ver isso, você começa a encontrar pessoas que estão no campo da sua bem aventurança, e elas abrem as portas para você. Eu costumo dizer: Persiga a sua bem-aventurança e não tenha medo, que as portas se abrirão, lá onde você não sabia que havia portas.” Joseph Campbell



O quarto encontro do Núcleo Granja Viana da Fundação Joseph Campbell contou, pela primeira vez, com a participação de Robert Walter, presidente da Fundação Joseph Campbell. A JCF foi fundada em 1990, em parceria com a viúva de Campbell, Jean Erdman, com o objetivo de preservar e divulgar os trabalhos do mitólogo estadunidense.
Os encontros costumam acontecer aos sábados na Igreja Santo Antônio em Cotia-SP, porém esse se realizou em uma data especial: a quarta feira, dia 25 de outubro, às 19 horas, por conta da disponibilidade de agenda de Walter.
Há quase 40 anos envolvido com a Fundação Joseph Campbell, Walter arranjou espaço em sua concorrida agenda no país para compartilhar com os presentes sua experiência como presidente da Fundação, assim como suas vivências ao lado de um dos maiores mitólogos do século XX.
A Fundação possui como proposta manter a visão mítica de Campbell viva por meio de publicações de livros, obras digitais, aulas em áudio e várias outras produções em vídeos. Por meio de uma comunidade global de artistas, acadêmicos, escritores e especialistas, a JCF organiza conferências e workshops em várias instituições. Atualmente conta com mais de 50 grupos de estudo em todo mundo vinculados ao Foundation’s Mythological RoundTable® Program, do qual o Núcleo Granja Viana é integrante como uma mesa redonda certificada.
Sobre os grupos espalhados pelo mundo, Robert compartilha que foi um longo processo de adaptação, com uma série de desafios. Ele aponta que ter acesso a esses grupos locais foi importante, pois cada grupo possui suas especificidades míticas, bem como suas peculiariedades. Para gerenciar esses grupos ele buscou usar como modelo as mesas redondas medievais, onde os cavaleiros conversavam, saiam para suas aventuras e retornavam para compartilhá-las. A partir dessa concepção, foi em 1995/1996 que o Programa das Roundtable se iniciou, juntamente com o website.
Segundo o presidente da Fundação, foi perceptível, inicialmente, que as Roundtable eram muito dinâmicas em nível local, mas que não havia muito a ser compartilhado com as outras Roundtables, mesmo as do mesmo país. Ainda assim, a intenção da Fundação nunca foi a de ditar qualquer regra que pudesse transformar as Roundtables em instituições com dogmas ou regras fechadas. A única recomendação feita a esses grupos foi a de que houvesse ao menos quatro encontros anuais, e que a data dos encontros e os conteúdos debatidos fossem disponibilizados no website oficial da Fundação para que outras pessoas pudessem acessá-los.  
Atualmente há oito Roundtables brasileiras, contudo parte da vinda de Walter foi dedicada a verificar, dentre os grupos existentes, quais estão ativos de fato. Em âmbito global seriam 71 Roundtables, porém ele explica que há muitos grupos não se vinculam à Fundação ou não divulgam os encontros.
Apesar de algumas dificuldades, atualmente a Fundação possui livros de Campbell publicados em 27 idiomas. O Brasil é o país com mais obras publicadas do mitólogo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Apesar do segundo lugar, Walter ressalta que existem muitos problemas em relação às edições, sobretudo quanto às traduções. Isso porque nem todas as editoras fazem como a Palas Athena e a Summus, respeitando os acordos feitos e providenciando traduções de qualidade.
A Fundação divulga e disponibiliza todo o material produzido por meio de suportes online como o Spotfy, Youtube e iTunes, possuindo ainda a página no Facebook  Joseph Campbell Foundation (https://www.facebook.com/JosephCampbellFoundation/) com mais de 230 mil seguidores e um grupo público, o Joseph Campbell Foundation Mytic Salon (https://www.facebook.com/groups/josephcampbell/) com mais de dez mil membros que fomentam diálogos constantes sobre os mitos e o pensamento de Campbell.
Robert se recorda que, quando o livro Herói de Mil Faces foi lançado em 1948 nos Estados Unidos, teve grande repercussão. Contudo, quando ele começou a trabalhar como editor de Campbell, há 40 anos, ninguém se interessava muito pelo trabalho desenvolvido pelo mitólogo. Contudo, quando George Lucas descobriu o Herói de Mil Faces e empregou a estrutura narrativa mítica para conceber o primeiro filme da série a Star Wars, lançada em 1977, o livro de Joseph Campbell foi catapultado à lista de mais vendidos do The New Yort Times. Hoje é considerado uma das cem obras mais influentes do mundo.
Tanto que, ao se assistir ao filme Batman x Super-homem é possível vizualizar na capa do super-herói a frase escrita em kryptoniano: “O Herói de Mil Faces”. Outra personagem que carrega o pensamento de Campbell é a Mulher Mravilha, que tem em sua espada uma frase do livro Deusas: Os Mistérios do Divino Feminino: “A vida está matando o tempo todo, então a deusa se mata em sacrifício aos próprios animais” (“Life is killing all the time and so the goddess kills herself in the sacrifice of her own animal”).
Para Walter, é uma grande benção ver essa repercussão a partir da obra de alguém que nunca teve interesse em fama ou dinheiro: “Campbell viveu sua vida toda em um pequeno apartamento, possuindo como único foco seu trabalho”. Ele cita o próprio Campbell: “Se você seguir sua bem aventurança as portas se abrirão para você”. Ainda assim, Walter lamenta que essa transformação tenha acontecido apenas após o falecimento do mitólogo.
Para Walter, o trabalho de Campbell tem se mostrado terreno fértil, pois pessoas ao redor do mundo se encontram para conversar sobre os temas desenvolvidos por ele. Suas ideias e seu trabalho dão suporte para a vida das pessoas e, para ele, esse é um presente extraordinário. “Eu mesmoacordo todas as manhãs sentindo-me muito abençoado pelo fato de as ideias de Campbell estarem presentes na cultura”.
O convidado chama a atenção para que em muitos lugares do mundo as pessoas já não estão mais conectadas com tradições religiosas. Por isso, segundo ele, precisamos sair pelo mundo vivendo nossas aventuras, mas é bom ter um lugar para retornarmos e contarmos nossas experiências. A ideia das Roundtables, portanto, é a de que cada indivíduo vá para a sua aventura, para a sua vida, e retorne depois de algum tempo, para que os integrantes possam, em conjunto, aprender uns com os outros. E assim possam transformar para melhor a comunidade ao seu redor.

Texto: Vanessa Heidemann











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